quarta-feira, 18 de maio de 2011

Os sapatos foram a minha vida nestes últimos anos. Primeiro a Chambellini, no Amoreiras Shopping Center, depois na rua do Carmo. O negócio estava mal. Antes havia poucas sapatarias e poucos centros comerciais, agora abrem aos molhos, como se tivéssemos população e dinheiro para tanta oferta.
Mudei de ramo. Ainda não domino este novo negócio, mas como tenho dois sócios, vou ajudado por eles, aprendendo, adaptando-me, evoluindo…
Alex, depois de uma viagem a Paris, veio com uma ideia nova, de trazer para Portugal a representação da Astroflash. A Astroflash é um software de astrologia, em que introduzindo os respectivos dados de nascimento, é impresso um mapa astral, o perfil psico-astrológico, etc, etc. Eu não entendo nada, nem de astrologia, nem de informática.
«Não precisas de saber nem de astrologia, nem de informática. O Jacinto será nosso sócio, também. E só terás de ligar, entrar no programa e saber introduzir os dados e desligar o computador. Logo aprenderás!» O Jacinto é um amigo comum. Ele tirou um curso de astrologia e domina bem a matéria, daí o Alex tê-lo convidado para entrar na sociedade.
Informática, não é, nunca foi, e acredito que nunca será o meu forte. As crianças hoje, nascem ensinadas, têm uma facilidade em lidar com aparelhos, computadores, vídeo jogos… Eu nunca, fui dado a essas modernices, à ciência da computação. No entanto, as novas gerações, hoje, olham para um computador pessoal, como se ele sempre tivesse existido, os da minha geração e também alguns da, de meus pais, como se fosse já imprescindível, sem que consigam passar um dia, sem o seu pc, quando somente há cerca de quarenta anos é que surgiu o primeiro computador pessoal, o Kenbak-1. E foi durante a 2ª Guerra Mundial que nasceram realmente os computadores, que deram origem aos actuais. Lembro-me de ter visto um documentário na televisão sobre o gigante electromagnético Mark I, construído nos USA, pela United States Navy, em conjunto com a Universidade de Harvard e a IBM. Um monstro, que ocupava 120 m3, tinha milhares de relés e fazia uma barulheira ensurdecedora. O Department Of The Army, também desenvolveu o seu computador, que usava apenas válvulas, para os ajudar a calcular as trajectórias de mísseis, com a precisão necessária para dar cabo dos Alemães e terminar mais depressa com aquela maldita guerra. Curioso que ainda hoje, as crianças alimentem o seu instinto e se divirtam, viciadas, grande parte, a jogos de guerra, os chamados vídeo jogos, tão populares entre os mais novos e alguns adultos que tiveram mais dificuldade em crescer.
Agora, tenho de aprender, mas está a ser-me difícil. Claro, que ligar o computador, abrir o programa, introduzir a password, depois os dados de nascimento, lidar com a impressora…, não foi difícil. Mas, qualquer outro problema, que surja, já não me é tão fácil e tenho sempre de pedir ajuda ou chamar um técnico. Os vírus! O anti-vírus que tinha, não era, suficientemente, potente, para destruir um malandro de um desses “bichos” que não sei como, entrou dentro do computador e começou a aniquilar todos os programas instalados. O problema foi tão grave que achámos melhor substituir o computador. A impressora, também estava sempre a dar problemas. Comprámos uma toda xpto, que imprimia muitas páginas por minuto, para que a freguesia, os consulentes, tivessem o mapa e os textos, sem terem de esperar muito, mas o papel por vezes encravava, estava sempre a encravar, depois deixava de trabalhar, de reconhecer o programa e de obedecer à ordem de imprimir. Lá pedíamos a um dos funcionários de uma loja vizinha, que vendia pc, impressoras, toners, material informático …, para nos ajudar a resolver tais anomalias, nem sempre visíveis e ultrapassáveis, para mim, ou qualquer comum mortal, como eu, que olhava para aquelas máquinas como objectos, não voadores, mas identificados como estranhíssimos.
A astrologia é interessante. Motiva-me mais. Sempre que posso pego num livro e leio. Já compreendo melhor o que é a astrologia. Antes, sabia muito pouco ou nada de signos. Hoje, entendo a mecânica celeste, os planetas do Sistema Solar. Na verdade são eles que nos influenciam e não os signos do Zodíaco. Quando uma pessoa fala que é de um determinado signo, significa que tem o Sol nesse signo, pelo facto de ter nascido num determinado dia. O Sol muda de signo por volta de vinte e um, vinte e dois, de cada mês. Já sei consultar as efemérides, ver onde se encontram em trânsito, os planetas… Claro, que ainda continuo a saber pouco, mas o suficiente para responder às questões postas pelos clientes, quando o Jacinto não se encontra na loja.
Continuo num centro comercial; Amoreiras. O horário que se tem de cumprir, perante a administração do centro e que faz parte do contrato, leva uma rotatividade de turnos e de pessoal, nem sempre fácil de gerir.
Agora temos uma nova funcionária. A primeira era interessada, e exercia bem as suas funções, mas como estava desempregada, antes de vir trabalhar connosco, esteve aqui até arranjar um emprego melhor; que ganhasse mais e tivesse fim-de-semana, para gozar. E lá foi. Esta, a Teresa é estudante de astrologia e domina minimamente informática.
O Jacinto é o mais castigado, por que é constantemente solicitado para dar explicações sobre os temas de nascimento. A Teresa também sabe, mas preferem que seja o astrólogo a falar-lhes. Normalmente sou eu que abro a loja. O Jacinto vem mais tarde, por volta das onze. Às quatro, cinco horas saio e ele fica até fechar, com a funcionária. Ao fim-de-semana, alternamos. Uma equipa “fixe”!

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