quarta-feira, 18 de maio de 2011

A minha mãe já percebeu que não consegue fazer tudo sozinha e resolveu contratar uma empregada doméstica, que a ajudasse a fazer umas quantas tarefas, que para ela já se tornam impossíveis, de executar sozinha, ou mesmo acompanha. Por intermédio de uma amiga ou vizinha, temos agora uma moldava de nome Olga, que vem umas três vezes por semana e que segundo a minha mãe lhe foram dadas muito boas referências, quanto à nova mulher-a-dias.
Eu, porém tive logo que a vi, no primeiro dia, uma opinião não tão boa.
«Bom dia! O que está a fazer? Isso não se faz assim!»
Ela olhou-me, como se visse o diabo e nem me conseguiu responder, não que o seu português não fosse suficientemente bom, para que entendesse o que dizia e pudesse responder à minha questão, mas talvez como entoei a minha indignação.
«A minha mãe, não lhe ensinou, ainda a separar o lixo e que não se deita óleo alimentar no lava-loiça.»
Olhava-me sem resposta, como se fosse apanhada a fazer uma grande maldade, mas que até aí, não achava que fosse tão grave assim, e nunca fora surpreendida por um defensor acérrimo da separação dos resíduos sólidos e da reciclagem. Como temi que se fosse logo embora, quando tinha acabado de entrar e não fosse a minha mãe ficar de novo sem alguém para a ajudar, resolvi com delicadeza mandá-la sentar e explicar-lhe por que se deve separar o lixo.
Então, comecei o sermão:
«Cada vez há mais habitantes no planeta. Com o desenvolvimento tecnológico e o consumo descontrolado, nos países, ditos, mais desenvolvidos, os resíduos aumentaram, sem que houvesse forma de os reaproveitar, sem terem alguma utilidade, a não ser a de poluir. É preciso separar o lixo para que seja mais facilmente reaproveitado ou deva ser tratado de maneira a não prejudicar o meio ambiente. Todos os dias deitamos fora muito lixo, os chamados resíduos sólidos urbanos; matéria orgânica, papel, papelão, plásticos, vidros, metais, roupas, resíduos informáticos, pilhas, baterias e ÓLEOS de cozinha e de motor. Já não bastam os resíduos industriais, como hospitalares. Mas esses são tratados de forma diferente devido ao grau de perigosidade, que oferecem. Aqui, em casa preferimos sacos de papel a plástico, por que são biodegradáveis. Se os sacos de plástico não forem reciclados, contaminaram o ambiente durante muitos e muitos anos até se degradarem naturalmente. Se cada um não fizer a sua parte, contribuir para minimizar o impacto da acumulação de resíduos, a segurança ambiental poderá estar em causa, assim como a qualidade de vida das populações. A melhor forma de prevenir a produção de resíduos sólidos urbanos é reduzir; não fazer lixo! Evitar o desperdício e reutilizar. Ou fazer a selecção correcta do lixo e colocar no ecoponto, ecocentro, para serem reciclados. Quando vou às compras tenho em conta também as embalagens, ou compro os produtos frescos, para evitar trazer muitas embalagens. Já sabe, aqui separa-se o lixo. Depois quando o for pôs do ecoponto, deita o metal, as embalagens de bebida, o plástico no amarelo. No azul, serão depositados; jornais, revistas, papel, cartão. No verde, o vidrão; vidros, cristais. Todos os resíduos separados irão depois ser reciclados. Muitos dos resíduos não reutilizáveis são depositados em aterros e cobertos com o solo em diversas camadas até atingirem a capacidade limite. Quando chove a água infiltrada é recolhida por um sistema de drenagem e reencaminhada para uma estação de tratamento de águas residuais. Não se esqueça do que lhe estou a dizer. O óleo alimentar, mete dentro de um garrafão e quando estiver cheio e levo-o até ao Oleão. Entendeu?»
«Sim. Entendi. Eu não costumo deitar o óleo para o esgoto público, mas não quis contrariar a ordem que me deu a sua mãe. Eu tentei dissuadi-la, mas ela não me deu qualquer hipótese e como estou aqui há pouco tempo, preciso de trabalhar, achei que de outra vez eu agiria à minha maneira, sem lhe dizer. Tudo o que me disse, sei. Eu na Moldávia era engenheira do ambiente.»
«Mãe!»
Chamei-a, mas não me respondeu. Sabia do que lhe queria dizer. Ouviu, certamente a nossa conversa.
Vim depois a saber por ela que fez parte de um movimento contra a co-incineração na cimenteira da Serra da Arrábida e disso me falou como conhecedora e defensora de uma causa justa.
«A Serra da Arrábida é um património natural valorosíssimo, inigualável, e por isso mesmo, como parque natural, deveria ser obrigatório preservá-lo e defendê-lo. Claro que é necessária a co-incineração de resíduos industriais tóxicos e perigosos, mas em sítios onde não seja posto em causa o meio ambiente e as populações. E haver garantias de que a sua manipulação seja segura, de forma a puderem ser usados como combustíveis. A colocação destes resíduos em aterros seria ainda mais gravosa, pois necessitam de uma prévia inertização, para evitar o seu posterior arrastamento pelas águas pluviais.
A cimenteira garante uma destruição mais completa das substâncias orgânicas, mas não trata de todo o tipo de resíduos, os metais são incorporados quimicamente no cimento. O nível de emissões de dioxinas e metais pesados é igual para as incineradoras dedicadas e para as cimenteiras co-incineradoras e deverá haver uma constante vigilância sobre o impacto ambiental; para a fauna e a flora, e em simultâneo de prevenção de fogos florestais. Este sistema pode não ser tão eficiente, quando não se contemplaram os ventos e as bacias hidrográficas dos locais. Como se sabe, não se pode garantir que o processo de co-incineração seja totalmente controlado e não ofereça riscos ambientais e à saúde pública. Terão sido contabilizados os riscos do transporte dos resíduos, sobretudo associados à sinistralidade rodoviária e à deficiente rede ferroviária? A co-incineração deve ser vista como uma tecnologia em fim de linha, que tem vindo a ser substituída pela inertização. Esta solução só fará sentido se estiverem reunidas as condições técnicas que permitam dizer que é a de menor risco para a saúde pública e parece que assim não acontece! A pesar, de alguns teste que foram realizados, terem sido favorável à implementação deste sistema na cimenteira do Outão, afinal, que consciência existe relativamente ao ambiente e preservação do mesmo? Quem saberá, os ricos que corre ao passear entre uma natureza aparentemente sã e de rara beleza? Que país é este, que em vez de preservar o que tem, coloca em risco? Não existem absolutas certezas sobre a inocuidade deste processo e os respectivos potenciais efeitos nocivos que esta queima poderá ter na saúde das populações mais próximas. Já viu serem queimados nos fornos da cimenteira a altas temperaturas uma gama variada de substâncias na forma líquida, sólida ou pastosa tais como: solventes de limpeza, indústria química, tintas, vernizes, óleos usados, alcatrão betumes, lamas de estações de tratamento de águas… Estes resíduos envolvem muitas vezes na sua constituição hidrocarbonetos e compostos clorados e fluorados entre outros, e alguns deles possuem um elevado poder calorífico. Embora não existam resíduos remanescentes deste processo, uma vez que estes são incorporados no próprio cimento, e as temperaturas e tempo de residência dos gases diminua a produção de gases tóxicos, deverá existir um sistema de tratamento, isto é, deverão ser aplicados filtros de mangas, de modo a reduzir ao máximo os efeitos de eventuais fugas de gases, o que não acontecerá. Mas mais do que a co-incineração o movimento em que participo e colaboro quer que a cimenteira encerre e que o Parque Natural da Arrábida, que cria tanta dificuldade aos particulares, a quem lá vive, ou deseja (r)construir uma casa, o que quer que seja, o que acho bem, mas não se compreende, como é possível existir um monstro daqueles destruindo a serra, no mais belo parque natural de Portugal As autarquias de Palmela, Sesimbra e Setúbal chegaram a entregar  uma providência cautelar ao tribunal para travar a co-incineração na Arrábida . Mas depois da decisão do Supremo, mas se pode mais recorrer. A Quercus considerou «estranhíssimo» que o Supremo Tribunal Administrativo tenha dado luz verde à co-incineração na Arrábida, alega tratar-se de um processo que está marcado por uma «total falta de transparência».
A Associação dos Cidadãos pela Arrábida e Estuário do Sado chegaram a realizar, com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal, uma concentração contra a co-incineração em Setúbal. Essa concentração era contra a queima de resíduos na Secil e pretendia,  ainda ser uma manifestação “por uma política ambiental correcta” e pela “saúde e qualidade de vida dos cidadãos”.
Houve um forte apelo às populações, no sentido de dar mais voz ao movimento que se criou contra tal incidente, que terá certamente e efeitos colaterais a médio e longo prazo. Claro que, quem beneficia com isto, não é a população, mas as cimenteiras, neste caso a Secil. Tudo isto foi devidamente acompanhado pela imprensa regional e nacional, frequentemente foi notícia na televisão, nas primeiras páginas dos jornais, mas não chegou, para que vencessem os interesses económicos, em detrimento da qualidade de vida das populações.

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