quarta-feira, 18 de maio de 2011

«Está bem, combinado; às oito, à porta do teatro!»
Gosto muito de sair e estar com a Milai. É uma excelente companhia, divertida. Parece que nos conhecemos desde sempre. Costumamos ir frequentemente ao teatro, cinema, já viajámos juntos, e temos projectos comuns, que espero consigamos concretizar. Damo-nos há meia dúzia de anos e sempre bem. Foi amor à primeira vista.
Há uns, talvez, cinco anos, não me lembro, sei que foi pouco antes de meu pai falecer. Ele estava muito doente e ligaram-me a informar da gravidade do seu estado, fora hospitalizado e queria falar comigo. Eu saí disparado e corri até ao hospital, na esperança de ainda o ver e ouvir. Quando lá cheguei, estava acompanhado por duas mulheres. Deduzi pela aparência e diferença de idades que deveriam ser mãe e filha. Cumprimentei-o e dei-lhes as boas tardes. Perguntei como se sentia, o que tinha, ao que me respondeu, com alguma dificuldade, pelo incómodo que as dores lhe causavam. Tinha câncer nos intestinos e poucas hipóteses haviam de cura. Quando me apercebi já as duas mulheres se tinham retirado sem dizerem alguma coisa. Estranhei.
«Não reconheceste a Gertrudes?»
«Não!» Não a tinha reconhecido, estava velhíssima, perdera a beleza, a elegância e a frescura, era outra pessoa. Também tinha aspecto de estar doente. Nunca mais a tinha visto.
« E o que estava ela aqui a fazer?»
«Senta-te, meu filho e ouve-me!»
Percebi que me iria falar de algum assunto, que desconhecia, pelo tom circunstancial e grave com que entoou a ordem para que me sentasse e o ouvisse. Atento, escutei-o. Fiquei surpreendido com o que me contara. Fiquei em choque! Nunca me passaria pela cabeça tal coisa! Como tinha conseguido esconder todos estes anos esta verdade?
«A minha mãe sabe?»
«Não!»
«Se não te importas, chama agora a Gertrudes e a Milai. Estão lá fora. Pedi-lhes que se retirassem, quando chegasses, para que pudéssemos falar a sós.»
Milai era de facto muito parecida com a mãe, quando, a conheci, era nova. Tinha menos cinco anos do que eu. Portanto nascera ainda o meu pai era casado com a minha mãe, vivia connosco, éramos supostamente uma família feliz e unida.
Nós gostaríamos de ter um negócio, juntos. Arte! Um espaço, onde pudéssemos sem pretensões comercializar arte. Descobrir novos talentos; pintores, escultores, artesãos… Fazer exposições individuais, colectivas. Vender livros de autores portugueses. Dar mais destaque aos poetas. Somos um país de poetas. Organizar eventos literários, lançamento de livros, colóquios, leitura de poesia, também musicais, com concertos… Um espaço onde fosse um ponto de encontro e de convívio entre artistas e os sensíveis à arte. Um espaço aberto a novas expressões e linguagens; consultas de astrologia, tarot, reiki, numerologia… A Milai tem esperanças de encontrar um espaço, uma loja que esteja bem localizada, em Lisboa, e que não tenha uma renda elevada. O investimento inicial será certamente pouco. A matéria-prima, serão os artistas, que queiram colaborar connosco, expor na nossa galeria e os astrólogos, tarólogo, terapeutas, que trabalharão à comissão.
Se não conseguirmos abrir o espaço “Artes”, partiremos para o projecto “B”. Milai como trabalha no ramo hoteleiro, gostaria de abrir uma pequena pousada, turismo de habitação… Ela tem uma casa, que a mãe lhe deixou e também me falou de poder alterá-la e de a converter num pequeno hotel de charme, onde eu seria o seu braço direito na gestão e organização. O Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, assim como o curso de informática que iniciei há pouco e o curso de inglês que irei ainda fazer, me darão ferramentas, para melhor poder levar por diante os projectos e senti-me mais capaz de os viver.

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