quarta-feira, 18 de maio de 2011

Lembro-me de quando era pequeno de ouvir falar sobre trabalho, os empregos, as dificuldades, aí, já existentes, as profissões mais rentáveis, a sorte de alguns de terem conseguido entrar para a Função Pública ou para firmas prestigiadas, onde ofereciam boas condições de trabalho, garantias, remuneração acima da média, cuidados de saúde… Os bancos. Os bancários eram uma classe à parte. Ganhavam bem, saíam cedo. Era importante conhecer a pessoa certa, para, por cunha, entrar numa instituição bancária e fazer carreira, lá envelhecer, reformar-se e ter assim uma vida estável e uma velhice satisfatória. Às vezes a minha mãe alvitrava a hipótese de um dia, vir a ser empregado bancário, dando sempre o exemplo do primo Zé. «Começou cedo a trabalhar; primeiro foi estafeta, agora é gerente de uma agência na Baixa, na rua do Ouro». Como se, eu tivesse a ambição de ser um dia empregado bancário, fosse o meu grande sonho. Eu não lhe respondia. Ela possivelmente percebera que tinha outros objectivos, que pretendia seguir outro caminho. «Ai, filho, artes?! Mas, isso não dá dinheiro a ninguém! Gestão, Economia, Informática, um curso desses! Informática é o que está a dar!»
Não sei se foi trauma, mas sempre, tive mala pata com a informática, odiei máquinas complicadas. Hoje, estou mais aberto, à aprendizagem da dita, mas como utilizador, mesmo no trabalho, nunca como profissional. A arte. A arte, sim! Era desenhando, pintando, que me realizava. Fui um dos fundadores do ARCO. Inicialmente o ARCO funcionava como um atelier de arte, de ocupação de tempos livres, onde se aprendia História de Arte, Pintura, Escultura… Mais tarde, tornou-se numa escola a sério. Ainda hoje, funciona e bem. Um dos meus primeiros empregos, foi de professor de Artes Visuais.


Actualmente, o mundo do trabalho é bem diferente, do que era no tempo de meus pais. Já não se entra de estafeta num banco e se chega gerente. Já não se tem garantia alguma, mesmo que a empresa seja credível, funcione bem, de perpetuar esse emprego, fazendo carreira, até à idade da reforma. No sector privado ainda pior. E os empregados bancários, já não são tão privilegiados e saem tarde.
Estou numa fase de mudança. Quero mudar. Recomeçar. Ainda penso trabalhar, abrir uma loja. Estive, grande parte da minha vida ligado ao comércio de calçado. Sempre, me esforcei por evoluir, dinamizar o negócio, nunca me acomodando, que podia visitava novas fábricas, ia a feiras internacionais de calçado e artigos em couro, estava atento às novas tendência de mercado, moda… Não é um negócio fácil. Há que escoar ao máximo a mercadoria de cada época, para que não se fique com monos. Mas há invernos em que não chove, não faz frio e verões menos quentes, e as botas ficam por vender, assim como os sapatos mais abertos. Depois, as promoções, os saldos! E tenta-se vender tudo ao desbarato.
Ainda, não pensei no que irei abrir. Para além de uma boa ideia terei, depois, de recolher informação, para a desenvolver. Será importante analisar experiências semelhantes, ter em consideração o momento político/económico, que atravessamos, identificar os pontos fracos e avaliar o potencial de lucro e crescimento, sem nunca esquecer os riscos. Tudo deverá ser bem planeado. Qualquer projecto deverá ser realista, mesmo que se planeie com positivismo, mas deverá haver moderação, de forma, a que o negócio seja viável e tenha aplicação no mercado.
Tudo está a mudar! O mundo está a sofrer profundas transformações. Este modelo económico/financeiro está em ruptura. Não pode o interesse maior visar unicamente o lucro, sem ter em atenção as pessoas que constituem, por exemplo, uma empresa, produzem, estão na base da pirâmide, são o sustentáculo de toda a estrutura. Nos últimos tempos as despesas aumentaram com os preços nunca até agora atingidos dos combustíveis fósseis, dos impostos, das matérias-primas, da electricidade, dos espaços alugados ou adquiridos…, que têm dificultado a viabilidade económica de algumas empresas, menos os aumentos salariais, pois é onde podem cortar; ou despedindo. Qualquer empresário, ao abrir uma nova firma, faz contas a todas as despesas, desvalorizando as que irá ter com quem contratará. Claro, no passado foi assim, agora, não terão mais viabilidade, mesmo que tenham escravos, em vez de assalariados. As injustiças sociais e laborais persistem, mesmo em países ditos evoluídos, democratas. Será impossível uma sociedade crescer favoravelmente, quando tudo importa, menos as pessoas que, a constituem e são a grande força motriz de toda a riqueza gerada e haver meia dúzia de inteligentes que tudo manobram convencidos de sua genialidade, quando na maior parte das vezes são eles os maiores incompetentes e os grandes culpados pelo descalabro. A educação e a cultura deverão ser o grande investimento das grandes nações, ou das que têm a ambição de poderem vir a existir livres e ricas, humanistas, por seus cidadãos.
A informática será importante. Dominar alguns programas certamente me ajudará, no meu próximo passo profissional. Agora, o maior investimento é o conhecimento, aprender a lidar com o computador.

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